CRIMES POLICIAIS — Delegado é condenado a mais de 50 anos de prisão por liderar esquema criminoso em Juiz de Fora
- José Adauto Ribeiro da Cruz
- 23 de ago.
- 4 min de leitura

Adauto Jornalismo Policial*
O juiz Daniel Réche da Motta, do Fórum de Juiz de Fora, condenou o delegado Rafael Gomes de Oliveira a 50 anos, 6 meses e 8 dias de prisão. A sentença é resultado da Operação Transformers, conduzida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que investigou uma rede de corrupção e tráfico de drogas dentro da Delegacia de Narcóticos da cidade, então comandada por Rafael.
Esquema criminoso entre policiais e traficantes
Segundo a decisão judicial, entre 2018 e 2022, Rafael Gomes liderou uma organização criminosa ao lado do narcotraficante Telcio da Silva Clemente. O grupo contava com outros policiais civis e advogados, todos envolvidos em crimes como corrupção ativa e passiva, tráfico de drogas e associação criminosa.
Entre os atos comprovados, destaca-se o pagamento de propinas mensais ao delegado e seus subordinados — uma entrada de R$ 30 mil seguida por parcelas de R$ 15 mil — em troca da proteção às atividades ilegais de Telcio. Os pagamentos eram intermediados pelos advogados Wilber Montezano de Mendonça e Wellington de Oliveira Lima.
Manipulação de provas e blindagem ao tráfico
Um dos episódios mais graves ocorreu em março de 2021, quando policiais adulteraram uma apreensão de drogas. Em vez de registrar 17 barras de cocaína de alta pureza, substituíram o material por 19 barras de crack e uma de cocaína de baixa qualidade, evitando que Telcio fosse vinculado ao laboratório desmantelado.
As provas reunidas incluíram gravações extraídas de dados telemáticos, que mostraram conversas entre Telcio e os demais acusados, revelando um acordo para blindar as operações da quadrilha. O juiz destacou que não se tratava de simples omissão, mas de participação ativa na mercancia de entorpecentes, enquadrando os envolvidos no artigo 33 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06).
Condenados no processo
Além de Rafael Gomes, outros integrantes da organização foram condenados:
Nome | Função | Pena | Envolvimento Principal |
Rogério Marinho Júnior | Inspetor da PC | 37 anos e 7 meses | Braço direito de Rafael, controlava propinas |
Leonardo Gomes Leal | Investigador da PC | 13 anos e 1 mês | Atuava nas investigações e recebia propina |
Wilber Montezano de Mendonça | Advogado | 29 anos e 9 meses | Intermediava negociações entre traficantes e PC |
Wellington de Oliveira Lima | Advogado | 12 anos e 3 meses | Entregava os valores da propina |
Telcio da Silva Clemente | Narcotraficante | 21 anos e 8 meses | Líder da organização criminosa |
Gustavo de Souza Soares | Investigador da PC | 16 anos e 4 meses | Participou da troca de drogas apreendidas |
Thiago Nazário Machado | Investigador da PC | 16 anos e 4 meses | Envolvido na adulteração de entorpecentes |
Raphael Pereira Neto Luz | Investigador da PC | 16 anos e 4 meses | Também participou da substituição de drogas |
Alexandre Soares | Investigador aposentado | 4 anos e 6 meses | Solicitou propina aos traficantes |
Desvio de função e impunidade institucional
O processo evidenciou um grave desvio de função pública, com manipulação de provas, recebimento de vantagens indevidas e favorecimento ao tráfico. Até o fechamento da reportagem, as defesas dos condenados não haviam se manifestado. O espaço segue aberto para posicionamentos.
A urgência do controle externo das polícias: quando o Estado financia sua própria corrosão

Casos como o do delegado Rafael Gomes de Oliveira, condenado a mais de 50 anos de prisão por liderar uma organização criminosa dentro da Delegacia de Narcóticos de Juiz de Fora, e o assassinato da juíza Patrícia Acioli por policiais militares do 7º BPM de São Gonçalo2, revelam uma faceta sombria das instituições policiais no Brasil: a capacidade de se tornarem núcleos de criminalidade sustentados por recursos públicos.
Esses episódios não são desvios isolados. Eles expõem um padrão sistêmico de corrupção, violência e impunidade que se perpetua quando as forças de segurança operam sem fiscalização independente. O que deveria ser o braço protetor do Estado se converte, em certos contextos, em instrumento de opressão, chantagem e até execução.
O paradoxo da autoridade armada
A polícia é a única instituição autorizada a usar a força em nome do Estado. Quando essa força é corrompida, o risco não é apenas para os direitos individuais — é para a própria democracia. A ausência de mecanismos de controle externo eficazes transforma essa autoridade em um poder paralelo, capaz de manipular provas, extorquir cidadãos e eliminar opositores, como no caso da juíza Acioli, que havia decretado a prisão de mais de 60 PMs antes de ser executada com 21 tiros.
Controle externo: uma necessidade democrática
O controle externo das polícias — por meio de corregedorias independentes, Ministério Público atuante, comissões parlamentares e participação da sociedade civil — não é um luxo institucional. É uma salvaguarda contra a militarização da barbárie. Sem ele, o Estado financia sua própria corrosão, alimentando estruturas que operam à margem da legalidade, mas sob o manto da legitimidade estatal.
Quando o Estado falha, a confiança pública desaba
A confiança da população nas instituições policiais está diretamente ligada à transparência e à responsabilização. Quando um delegado lidera um esquema de tráfico e corrupção dentro da própria delegacia, ou quando oficiais militares planejam e executam o assassinato de uma magistrada, o pacto social se rompe. A polícia deixa de ser vista como protetora e passa a ser temida como predadora.
* Com suporte de IA Copilot fornecido pelo Microsoft
REFERÊNCIAS: