CRIMES POLICIAIS — Paula Toller acusou policial de agressão há 30 anos
- José Adauto Ribeiro da Cruz
- 23 de ago.
- 4 min de leitura

Paula Toller: “Fui imobilizada, levei um tapa”. Assim denunciou agressão em aeroporto nos anos 90
Adauto Jornalismo Policial*
Em agosto de 1996, a cantora Paula Toller, então vocalista do Kid Abelha, viveu um episódio revoltante e absolutamente inaceitável em um aeroporto do Rio de Janeiro.
O que deveria ser apenas mais uma etapa de viagem virou um pesadelo digno de denúncia internacional: a artista foi imobilizada, agredida, algemada e humilhada por policiais federais — tudo isso por causa de um suposto impasse sobre a apresentação de um documento.
Após desembarcar de um voo vindo dos Estados Unidos e fazer escala em São Paulo, Paula seguia para o Rio quando foi abordada por um agente na área de desembarque destinada a brasileiros.
Sem qualquer justificativa plausível, o policial agarrou seu braço e exigiu “documento” de forma grosseira. Ao pedir que soltasse seu braço, Paula foi ainda mais apertada — uma violência disfarçada de procedimento.
A reação da cantora diante da agressão foi tratada como desacato. O que se seguiu foi um verdadeiro espetáculo de brutalidade: chave de braço, imobilização, tapa no rosto, arranhões causados pelos óculos, e uma condução forçada até uma sala onde foi algemada com extrema violência física e verbal.
Ferida no pulso, Paula ainda levou uma rasteira, foi arrastada pelo aeroporto e colocada num carro com os próprios agressores, sem direito a acompanhante.
Como se não bastasse, foi obrigada a assinar um documento afirmando que seus direitos constitucionais haviam sido respeitados — uma farsa grotesca.
E, dentro das dependências da Polícia Federal, foi insultada com termos como “maluca”, “drogada” e “viciada em cocaína”. Uma tentativa clara de desmoralização e silenciamento.
O mais revoltante? Outros passageiros, inclusive um integrante da equipe do Kid Abelha, passaram sem qualquer abordagem. Paula questionou: “Se esse procedimento é normal com mulheres, e não se pode reagir sob pena de ser espancada, algemada e presa, então esse regulamento está errado e tem de ser modificado.”
A resposta da Polícia Federal foi previsível: negou abuso e acusou Paula de agressão, alegando que ela teria desferido socos, chutes e até cuspido no policial. A instituição prometeu apurar os fatos, mas só abriria sindicância se a violência fosse confirmada — como se os ferimentos, humilhações e testemunhos não fossem suficientes.
Em 2000, tanto Paula quanto o policial foram absolvidos. Mas o trauma e a indignação permanecem. Em entrevista à revista Trip, a cantora fez um alerta que continua atual: “As pessoas deviam aprender seus direitos na escola. A gente não sabe o que um policial pode ou não pode fazer, então fica essa confusão aí, de todo mundo achar que tem que obedecer tudo.”
Da década de 90 à atualidade: a violência policial como sintoma de um Estado que falha

Nos anos 1990, o Brasil vivia um período marcado por transições democráticas ainda frágeis e instituições públicas pouco fiscalizadas. As polícias, especialmente as militares e federais, operavam com ampla autonomia e pouquíssima transparência.
Casos como o de Paula Toller — que relatou ter sido agredida, imobilizada e humilhada por agentes da Polícia Federal em um aeroporto — não eram exceção, mas parte de um padrão de abuso institucional que atingia principalmente mulheres, pessoas negras e moradores das periferias.
Era comum que ações policiais fossem pautadas por arbitrariedade, truculência e impunidade. A ausência de câmeras, protocolos claros e controle externo permitia que agentes do Estado “batessem e matassem quem quisessem”, como você bem colocou. E quando as vítimas eram famosas, como Paula, o escândalo ganhava manchetes. Mas e os milhares de casos que nunca chegaram à imprensa?
E hoje, o que mudou?
Apesar de avanços em tecnologia, leis e controle social, a violência policial continua sendo um problema grave no Brasil. Dados recentes mostram que o país segue entre os que mais registram mortes causadas por agentes de segurança pública.
A letalidade policial ainda é desproporcionalmente alta em comunidades pobres e racializadas:
Transparência melhorou, mas ainda é insuficiente. Câmeras corporais, por exemplo, são adotadas em poucos estados e enfrentam resistência.
Controle externo existe, mas muitas corregedorias são corporativistas e lentas.
A cultura de impunidade persiste, especialmente quando a vítima não tem visibilidade pública.
O caso de Paula Toller, ocorrido há quase 30 anos, é um lembrete de que o abuso de poder não é novidade — e que a luta por justiça, dignidade e respeito aos direitos humanos precisa ser constante. Hoje, mais do que nunca, é essencial que a sociedade civil cobre mudanças estruturais e que os órgãos de segurança sejam responsabilizados por seus excessos.
* Com suporte de IA Copilot fornecido pelo Microsoft
REFERÊNCIAS: