Doutrina Monroe reformulada — Washington e o realinhamento militar sul-americano
- José Adauto Ribeiro da Cruz

- há 6 dias
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A doutrina militar americana e política que visa esmagar regimes autoritários na América do Sul e possivelmente rivais.
O Congresso do Peru aprovou em quatro de dezembro de dois mil e vinte e cinco a resolução legislativa treze mil quatrocentos e trinta e seis de dois mil e vinte e cinco, autorizando a entrada de pessoal militar das forças armadas dos Estados Unidos em território nacional durante todo o ano de dois mil e vinte e seis.
Com setenta e três votos a favor, vinte e cinco contrários e duas abstenções, a medida permite o ingresso rotativo de efetivos do Departamento de Defesa Americano.
As atividades envolverão treinamentos conjuntos com o Exército, a Marinha, a Força Aérea Peruana e a Polícia Nacional, focando em cooperação em defesa, instrução tática e operações contra ameaças transnacionais.
Essa aprovação posiciona o Peru como a terceira nação sul-americana em dois mil e vinte e cinco a facilitar o uso de seu território para exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos em um contexto de escalada regional de inseguranças.
O Paraguai foi o pioneiro neste ano com o exercício bilateral Amistade dois mil e vinte e cinco, realizado em agosto, que reuniu centenas de militares americanos e paraguaios em missões médicas, treinamentos de prontidão e operações humanitárias.
Coordenado pelo Comando Sul das Forças Armadas Americanas, o evento fortaleceu parcerias em saúde pública e resposta a desastres, com o uso de bases aéreas e navais paraguaias para simulações de evacuação e controle aéreo.
Em paralelo, o país designou o cartel de Lossoles, suposta rede de narcotraficantes ligada ao regime venezuelano, como organização terrorista, alinhando-se explicitamente às prioridades de Washington contra o crime organizado.
Já a Argentina seguiu em outubro por meio do decreto de necessidade e urgência seiscentos e noventa e sete de dois mil e vinte e cinco, assinado pelo presidente Javier Milei, autorizando a operação Tridente.
Essa manobra naval e terrestre, de vinte de outubro a quinze de novembro, permitiu o acesso de contingentes americanos a bases em Mar del Plata, Ushuaia e Puerto Belgrano, com foco em táticas anfíbias e interoperabilidade de forças especiais.
A decisão gerou controvérsia por contornar o Congresso, mas reflete o realinhamento geopolítico de Buenos Aires rumo a uma aliança mais estreita com Washington.
Essa sequência de aprovações ocorre em meio a tensões crescentes na América do Sul, impulsionadas pela Venezuela e pelo avanço do narcotráfico.
O regime de Nicolás Maduro, acusado por fontes americanas de abrigar o cartel de Losoles como braço estatal do tráfico, tem se tornado epicentro de instabilidades regionais.
Desde janeiro de dois mil e vinte e cinco, os Estados Unidos intensificaram patrulhas navais no Caribe, bombardeando pelo menos dez embarcações ligadas a rotas de cocaína, com perdas estimadas em dezenas de toneladas de entorpecentes interceptadas.
Essas ações, justificadas como defesa contra combatentes ilegais, termo adotado pelo presidente Donald Trump em setembro, elevaram o risco de confronto direto com Caracas, que denunciou violações de soberania e mobilizou milícias armadas em suas fronteiras.
O narcotráfico, por sua vez, transcende fronteiras com facções como o Primeiro Comando da Capital, o PCC, do Brasil, expandindo operações para Paraguai, Bolívia e até Colômbia.
Relatórios de inteligência de dois mil e vinte e cinco indicam que o PCC controla rotas na Amazônia Legal, presente em noventa municípios brasileiros e infiltrando vizinhos via alianças com dissidentes das FARC e o Comando Vermelho, CV.
Essas redes não só financiam insurgências, mas ameaçam a estabilidade interna.
No Paraguai, por exemplo, o tráfico de maconha e cocaína gerou tiroteios fronteiriços em dois mil e vinte e cinco, enquanto na Argentina portos como Rosário viraram centros de lavagem de ativos.
O PCC, com estrutura paramilitar e arsenal incluindo fuzis AK quarenta e sete e drones para vigilância, representa uma ameaça assimétrica, capaz de desestabilizar economias vizinhas e forçar realocações de tropas regionais para patrulhas de fronteira.
Vale notar que outras nações sul-americanas já haviam autorizado presenças americanas em anos anteriores, normalizando essa cooperação.
A Colômbia, por décadas parceira no Plano Colômbia, hospeda bases rotativas para operações antinarcóticos desde os anos dois mil, com exercícios como o Southern Vanguard em dois mil e vinte e três.
O Equador retomou acordos em dois mil e vinte e quatro após uma pausa, permitindo treinamentos em Galápagos contra a migração irregular ligada ao crime.
Até o Brasil, apesar de sua neutralidade declarada, participa de manobras como a Unitas Naval desde dois mil e dez, com autorizações pontuais para observadores americanos em exercícios amazônicos.
Paralelamente, o Brasil consolida sua expansão militar na região de forma pragmática e multifacetada.
Como décima primeira potência global no Ranking Global Fire Power de dois mil e vinte e cinco, o país detém o maior exército latino-americano com trezentos e sessenta mil efetivos ativos e investe um vírgula três bilhões de dólares em exportações de defesa.
Recorde histórico impulsionado por aviões Gripen, submarinos Scorpene e mísseis MS um vírgula dois, testados na operação Atlas, deflagrada em julho na fronteira com a Venezuela, envolvendo oito mil militares em simulações de defesa territorial e apoio à COP trinta.
Essa presença se materializa em cooperações bilaterais. No Uruguai e Paraguai, o Brasil fornece treinamento em contra-insurgência via Abim.
Na Bolívia, participa de missões de paz da ONU com blindados Guarani. E na Guiana, realiza exercícios conjuntos contra disputas fronteiriças com a Venezuela.
No cerne dessa dinâmica está a Venezuela, onde os Estados Unidos, invocando a doutrina Monroe reformulada por Trump como Don R Doctrine, oficializam o recrudescimento de sua influência política e militar no continente.
Lançada em mil oitocentos e vinte e três para barrar interferências europeias, a doutrina agora visa conter avanços chineses.
Investimentos em portos venezuelanos superam sessenta bilhões de dólares, enquanto a Rússia fornece sistemas S quatrocentos e caças SU trinta para Caracas.
Após o primeiro mandato de Trump, que inicialmente priorizou Ásia e Oriente Médio, virando as costas para o hemisfério ocidental como criticado por analistas, o atual governo relocou recursos.
O porta-aviões USS Gerald Aford patrulha o Caribe desde novembro com quinze mil tropas regionais. Enquanto isso, sanções dobraram a recompensa por Maduro para cinquenta milhões de dólares.
Trump apertou o cerco declarando conflito armado com cartéis em setembro e afundando mais embarcações, com indícios de preparativos para incursões terrestres em larga escala, possivelmente via proxies colombianos ou guianenses sob o pretexto de desmantelar o narcoestado chavista.
Essa estratégia não só isola Moscou e Pequim, mas reconfigura alianças. Tarifas punitivas a rivais e resgates econômicos a aliados como Milei aceleram o rehemisfering, dividindo o mundo em esferas de influência.
Essa tríade de aprovações sul-americanas sinaliza um pivot tático rumo à interoperabilidade com Washington, impulsionado por ameaças comuns, como o narcoterrorismo venezuelano.
Militarmente, fortalece redes de inteligência e mobilidade, mas arrisca escaladas assimétricas. O PCC, por exemplo, pode retaliar com ciberataques ou rotas alternativas.
Geopoliticamente, a doutrina Monroe revivida por Trump prioriza a contenção sobre o multilateralismo, potencialmente isolando o Brasil como contrapeso regional, mas demandando de Brasília uma diplomacia ativa para mitigar impactos humanitários e econômicos.
Em essência, a América do Sul transita de zona de influência difusa para arena de realinhamentos estratégicos, onde a cooperação antinarcóticos pode mascarar ambições hegemônicas maiores.


