EUA reconfiguram estrategicamente seu poder militar na América Latina
- José Adauto Ribeiro da Cruz

- 6 de dez.
- 4 min de leitura
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Donald Trump confirma o aumento da presença militar na América do Sul para reconquistar a influência americana e, segundo integrantes do próprio governo, para neutralizar ou esmagar governos alinhados com ideias comunistas, autoritarismos de esquerda e aproximações estratégicas com a China e a Rússia.
A Casa Branca reafirmou oficialmente a retomada da doutrina Monroe como pilar da estratégia de segurança nacional, recolocando a América do Sul no centro das prioridades militares e geopolíticas dos Estados Unidos.
Este movimento ocorre ao mesmo tempo em que fuzileiros navais são enviados para território americano no Caribe, extremamente próximo da Venezuela.
E enquanto Washington retalhou o Brasil com cortes pesados em programas de financiamento humanitário, a nova doutrina Monroe divulgada pela Casa Branca deixa claro que os Estados Unidos não aceitarão a expansão de influências externas no hemisfério ocidental.
O documento afirma que após anos de suposta negligência, Washington retomará o princípio de que qualquer presença militar, tecnológica ou econômica de potências rivais na região será considerada uma ameaça direta à segurança norte-americana.
A referência mais contundente é contra a China e a Rússia, cujas parcerias com governos da América do Sul, especialmente Venezuela, Cuba, Bolívia e em menor grau Brasil, são apontadas como tentativas de interferência contrária aos interesses estratégicos de Washington.
O texto também reforça que governos identificados como de orientação socialista ou aliados de regimes considerados hostis poderão sofrer pressões políticas, econômicas e até militares para garantir a estabilidade continental.
Segundo critérios estabelecidos por Trump, a Venezuela permanece como o epicentro da tensão.
Os Estados Unidos acusam o governo Nicolas Maduro de permitir operações de tráfico internacional de drogas, de abrigar agentes alinhados à inteligência russa e chinesa e de transformar o país em uma plataforma de atividades consideradas hostis.
O governo Trump sustenta que Caracas representa uma ameaça direta ao território americano, justificando o aumento expressivo da mobilização militar no Caribe.
Nas últimas semanas, Washington intensificou patrulhas navais, enviou destroyeres, aeronaves de vigilância eletrônica e reforçou destacamentos de fuzileiros.
Autoridades afirmam que trata-se de uma resposta necessária ao avanço de cartéis transnacionais, mas analistas observam que a postura militar tem características preparatórias típicas de operações de interdição, bloqueio marítimo ou ações de força controlada.
O movimento mais simbólico ocorreu com o desembarque de fuzileiros navais em Porto Rico, território pertencente aos Estados Unidos e posicionado a menos de 1000 km de Caracas.
Tropas desembarcaram com veículos anfíbios, blindados leves, equipamentos de comando e suprimentos, utilizando um navio de transporte da classe San Antônio, parte de um grupo estacionado no Caribe há semanas.
As operações começaram logo após o amanhecer e envolveram múltiplas embarcações de desembarque da Marinha.
Embora Washington não tenha revelado a finalidade específica da operação, a logística observada aponta para a ampliação de capacidade operacional avançada, permitindo respostas rápidas a crises envolvendo a Venezuela.
Porto Rico se transforma assim em uma plataforma estratégica para monitoramento, mobilização e possível projeção militar.
Enquanto reforça sua presença militar na região, Donald Trump também adotou medidas de pressão política e econômica contra governos que, na visão de Washington, demonstram independência excessiva de alinhamento ou estreita relação com a China.
O Brasil foi alvo direto dessa nova política. A decisão de cortar recursos de programas sociais e humanitários apoiados por instituições dos Estados Unidos afetou profundamente organizações brasileiras que há décadas dependiam dessas verbas.
Projetos como a Cáritas, centros de acolhimento de refugiados e iniciativas dedicadas à assistência a imigrantes perderam financiamento vital que vinha sendo mantido desde a década de 1980.
O fechamento iminente de projetos como a Casa Um em São Paulo reflete o impacto dessa mudança.
Com o desmonte completo da estrutura da agência dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional, que deixou de existir na prática após os cortes promovidos pela nova administração, centenas de funcionários perderam salário, cursos de integração foram suspensos e programas de alimentação emergencial foram encerrados.
A decisão foi entendida por diplomatas como uma retaliação direta ao Brasil, especialmente após divergências sobre a crise venezuelana e o aprofundamento das relações econômicas entre Brasília e Pequim.
O cenário revela que a política externa norte-americana voltou a atuar de maneira agressiva na América do Sul.
A retomada da doutrina Monroe, o aumento da presença militar em áreas estratégicas e o uso de cortes financeiros como ferramenta de pressão indicam que Washington está reposicionando seu poder de forma mais autoritária do que nas últimas décadas.
O hemisfério ocidental volta a ser visto como zona de responsabilidade exclusiva dos Estados Unidos, e qualquer governo que se alinhe a potências externas ou adote modelos de esquerda poderá enfrentar consequências diretas.
O conjunto dos eventos demonstra que os Estados Unidos atravessam um período de reconfiguração estratégica profunda.
O retorno explícito da doutrina Monroe como diretriz oficial indica que a América do Sul voltou a ser um ponto de disputa central entre as grandes potências.
A Venezuela funciona como catalisador militar, o Brasil como campo de pressão política e a China como a força externa mais temida por Washington.
A mobilização militar em Porto Rico, tão próxima da Venezuela, revela que os Estados Unidos querem dispor de meios imediatos para intervir, caso considerem necessário.
Ao mesmo tempo, os cortes de financiamento ao Brasil mostram que a administração Trump não hesita em usar influência econômica para forçar realinhamentos.
A combinação desses fatores aponta para um cenário continental instável, com possível escalada de tensões diplomáticas, militares e sociais, em um momento em que a geopolítica global volta a se mover de forma acelerada e imprevisível.


