O 'pavor' de imigrantes brasileiros em Massachusetts em meio a deportações em massa nos EUA
- José Adauto Ribeiro da Cruz

- há 4 dias
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O medo que eu tenho é de sair para trabalhar, ser pego e simplesmente sumir. Entrei em pânico, eu entrei em pânico.
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O medo que eu tenho é de sair para trabalhar, ser pego e simplesmente sumir. Entrei em pânico, eu entrei em pânico. A gente vive assim, a gente trabalha, sai com medo, vive com medo.
A ofensiva do governo Trump contra a imigração tem mudado a rotina de comunidades estrangeiras nos Estados Unidos. E agora atinge em cheio um Estado em que os brasileiros formam o maior grupo de imigrantes: Massachusetts.
Eu percorri o interior de Massachusetts e encontrei com vários brasileiros que já tiveram pessoas próximas detidas e até mesmo deportadas nas últimas semanas. Pega uma casca de ovo e bate com o martelo, você vai saber como é que eu estou. Estou despedaçada. Eu só estou com forças porque eu preciso ter forças. Deus está me dando força para seguir lutando por ele.
A Marta mora aqui nos Estados Unidos há vinte e seis anos e já é cidadã norte-americana. Mas o marido, segundo ela nos contou, ainda buscava regularização do seu status migratório e tentava obter o chamado “green card” após o casamento. Um dia que eu nunca vou esquecer. Ele saiu para trabalhar como faz todo dia.
Aí, dez minutos depois, o meu filho me ligou, que o meu filho saiu logo em seguida, e me ligou, perguntando se ele tinha esquecido do telefone em casa, porque não estava conseguindo falar com ele nem com nenhum dos outros três, ninguém atendia o telefone. Aí já comecei a ficar nervosa.
O marido da Marta trabalha como pintor de paredes e foi parado pelo ICE a caminho do trabalho, junto com outros três colegas. E ele não liga pra gente, a gente fica sem saber notícia, só ligou uma vez, ele só tem três minutos pra ligar por dia, pelo que me parece.
Ele ligou uma vez só, então a gente não sabe o que que já aconteceu, se ele já foi ou não. Desde que o marido foi detido, a Marta tenta encontrar uma forma de evitar que ele seja deportado.
Como se eu estivesse num naufrágio, me afogando, não tinha onde me agarrar. Eu tenho problema de pulmão, nem estou pensando mais no meu problema, parece que eu nem tenho problema mais. Eu uso oxigênio, está aqui meu aparelho de oxigênio, nem estou quase usando porque a minha mente está focada nele.
O marido da Marta é uma entre sessenta mil pessoas de várias nacionalidades detidas em centros de imigração nos Estados Unidos e aguardando uma possível deportação. O governo Trump diz já ter deportado quatrocentas mil pessoas desde o início do ano, sendo duas mil delas brasileiras.
Mas movimentos de defesa dos direitos humanos alegam que essas detenções são arbitrárias e que muitos imigrantes estão sendo submetidos a condições subumanas.
Eu também conheci a Paula, que pediu anonimato porque está com medo de ser presa. O marido dela foi deportado depois de ter se apresentado num tribunal por conta de uma multa de trânsito.
Chegando lá, o juiz viu que ele não tinha nada. Ele não tinha nada pendente. E falou: "não, pode liberar ele". Só que aí, quando ele estava saindo, o policial do ICE foi, pegou ele na porta e algemou os braços, a cintura e os pés dele, sem falar nada com ele, colocaram ele dentro da viatura e levaram para a detenção.
A Paula diz que passou vários dias sem saber ao certo o que havia acontecido com seu marido. Eu entrei em pânico, eu entrei em pânico. Aí, depois de madrugada, no quarto dia, ele entrou em contato com a gente, disse que estava no Brasil, em Confins. Detalhe: em um dos lugares, vinte e quatro horas dormindo no chão, com frio, sem ter o que comer, nem nada.
A pequena cidade de Framingham é conhecida informalmente como a mais brasileira das cidades norte-americanas. A vida ali virou de cabeça pra baixo nas últimas semanas. Caminhando por Framingham, é fácil identificar a presença dos brasileiros, tanto dos trabalhadores quanto também dos empresários.
Tem vários estabelecimentos aqui com nomes em português, vários outros estabelecimentos anunciando que se faz o atendimento em português, e até mesmo na prefeitura os sinais, também existem cartazes em português, o que indica a presença forte dessa população aqui.
Mas desde que começaram as operações do ICE aqui na região, o que a gente tem recebido de reporte é que tem havido um grande medo das pessoas saírem às ruas. Hoje você pode ser parado por conta do seu biotipo.
Hoje você pode ser parado pelo governo americano porque você falou alguma coisa que não deveria ter falado. Hoje você pode perder tudo. O que a gente está vivendo hoje nunca foi vivido.
A Lidia Souza trabalha em uma organização comunitária que tem ajudado os imigrantes brasileiros a regularizarem sua situação migratória ou obterem documentos para voltar pro Brasil.
E diz que está muito difícil dar conta da demanda. Se hoje você falar assim "meu filho nasceu, eu quero dar a cidadania brasileira", você só vai dar a cidadania brasileira para seu filho no final de janeiro de dois mil e vinte e seis.
Para você ter um passaporte, você vai para março. Para você sair daqui com seu filho direitinho, passaporte americano, certidão de nascimento brasileira e passaporte brasileiro, você sai daqui no final de março.
E se essas pessoas forem pegas antes, como está acontecendo? Aí a gente tem que apagar os incêndios. Viramos bombeiros. Eu acompanhei a Lidia indo pra um ponto de ônibus escolar. Ela conseguiu que cidadãos americanos se voluntariassem para buscar as crianças.
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REFERÊNCIAS:
@viesmilitar
@jovempannews

