MDHC cobra educação antirracista nas polícias de SP após morte de marceneiro negro
- José Adauto Ribeiro da Cruz

- 20 de jul.
- 5 min de leitura

O MDHC solicitou a inclusão de uma educação antirracista nas polícias para combater o racismo institucional
Adauto Jornalismo Policial*
O g1 informou que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) publicou nesta quarta-feira (9) um comunicado exigindo apuração rigorosa na investigação do assassinado do marceneiro negro Guilherme Dias Santos Ferreira.
O jovem morreu na sexta-feira (4) após levar um tiro na cabeça disparado pelo policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, enquanto corria para pegar o ônibus de volta para casa, cerca de minutos após bater o ponto de saída no trabalho.
"O MDHC exige uma apuração rigorosa, célere e transparente do caso, com a imediata responsabilização de todos os envolvidos. A justiça para Guilherme Dias e sua família é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, onde a cor da pele não defina o risco de morte", escreveu.
Em um trecho do comunicado, a pasta se solidarizou com a família de Guilherme e solicitou a inclusão de uma educação antirracista nas polícias para combater o racismo institucional.
"[Há] a necessidade inadiável da adoção de uma formação contínua em direitos humanos pelos órgãos policiais. Essa formação deve incluir uma educação antirracista, combatendo o racismo institucional que, infelizmente, ainda permeia nossas estruturas de segurança pública e se manifesta em ações violentas e discriminatórias."
No boletim de ocorrência, o PM alegou que teria confundido o jovem com um assaltante. Ele afirmou que pilotava uma moto pela Estrada Ecoturística de Parelheiros quando foi abordado por suspeitos armados que tentaram roubar a motocicleta. Na versão do agente do 12° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, ele teria reagido com disparos e, durante a confusão, um dos tiros acertou Guilherme.
Na ação, uma mulher, que estava no ponto de ônibus, foi atingida de raspão por um disparo. Fábio chegou a ser preso em flagrante por homicídio culposo após o crime, mas pagou fiança de R$ 6,5 mil e foi liberado. Ele foi afastado do serviço operacional. A defesa do policial disse que não vai se manifestar e irá aguardar o andamento das investigações.
Na segunda-feira (7), o coronel Emerson Massera, chefe de comunicação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, afirmou que o agente que atirou na cabeça e matou o marceneiro cometeu um "erro de avaliação".
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que o policial responde a inquérito conduzido pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo a SSP, a gestão investe na qualificação das forças de segurança e atualização dos protocolos de operação.
"Durante a formação, todos cursam disciplinas de Direitos Humanos que abordam o combate ao racismo, à violência de gênero e a outros crimes de intolerância. Além disso, a Polícia Militar integra o grupo de trabalho 'Movimento Antirracista – Segurança do Futuro', coordenado pela Universidade Zumbi dos Palmares, voltado à construção de uma segurança pública mais equitativa e inclusiva", afirmou.
Quem era Guilherme Dias
Ao g1, a prima Larissa Souza, de 28 anos, contou que Guilherme havia comemorado o aniversário no último fim de semana de junho — ele completou 26 anos. Primos, os dois moravam no mesmo quintal e cresceram com os outros quatro irmãos do jovem.
"A gente costumava sair juntos e fazer programação em família. Quando íamos à praia, a gente juntava a família toda. Recentemente, fomos para Peruíbe [litoral de SP]. Ele foi com a esposa, e eu estava presente", relembrou Larissa.
Conhecido entre colegas e familiares pelo comprometimento com o serviço e pela dedicação à família, o jovem atuava como marceneiro em uma fábrica de móveis há quase três anos.
Ao g1, Roberto Souza, tio de Guilherme, ressaltou que a família era muito unida e que se reunia frequentemente em momentos de fé e lazer.
"Nossa relação é muito próxima. Todo feriado que tem, a gente reunia a família com o Guilherme, a gente dava risada, a gente fazia churrasco. A gente cantava hinos, louvores, falava da palavra [de Deus], fazia jogos bíblicos, assim que era a nossa vida. Era não, ainda é porque tem que continuar. Mas com um vazio", disse.
Segundo ele, o sobrinho estava ajudando a programar o aniversário de 70 anos da avó. "A gente não sabe como que vai ser sem ele. Ela está muito abalada, já é o segundo neto que ela perde. O meu irmão perdeu um nenê recém-nascido recentemente. E agora é o Guilherme."
No velório, realizado no domingo (6), em Parelheiros, amigos da igreja cantaram e homenagearam o marceneiro. "É só ver quantas pessoas estiveram. Ele era muito querido pela comunidade. É só olhar as imagens do velório."
Guilherme estava no segundo dia de trabalho após retornar das férias. Segundo relatos de sua família, ele costumava seguir sempre a mesma rotina: do trabalho para casa, da casa para a igreja, e da igreja para o trabalho.
"Nunca se envolveu com nada, era do serviço para casa, da casa para a igreja. Era sempre assim", contou à TV Globo Sthephanie dos Santos Ferreira Dias, viúva de Guilherme.
Na noite do crime, o marceneiro havia acabado de bater o ponto e avisou a esposa que estava indo embora. Ele mesmo publicou no status do WhatsApp uma foto do relógio de ponto à saída do trabalho.
A morte de Guilherme causou revolta e tristeza entre familiares e amigos. Sthephanie atribuiu a reação do policial ao racismo estrutural presente no caso.
"Nunca se envolveu com nada. Era sempre assim, estava na casa dos pais ou em casa. Ele não é isso o que o povo está falando", desabafou a esposa.
Guilherme e Sthephanie completariam dois anos de casados em agosto. Eles tinham o sonho de ter filhos e planejavam viajar para comemorar a data.
"O sonho dele era ser pai. A gente estava fazendo tratamento para poder gerar um filho", contou a mulher.
"Ele estava pagando o carro dele, tirando a carteira de motorista e ia começar as aulas práticas. Também estava pretendendo conseguir um emprego melhor para sair mais cedo e receber melhor."
Na mochila, Guilherme carregava apenas um livro, marmita, talheres e a roupa de trabalho. Pouco antes do crime, ele avisou a esposa que já estava indo embora.
"Deu 22h e eu dormi, e do nada acordei às 2h. Olhei meu WhatsApp e tinha mensagem dele: 'Estou indo embora'. Às 22h38. [Eram] duas e meia da manhã e ele não tinha chegado. Ele nunca foi de chegar tarde em casa, sempre chegou no horário. Se ocorresse alguma coisa, ele me avisava", disse.
O policial militar foi afastado do serviço operacional. Procurada, a defesa dele disse que não vai se manifestar e irá aguardar o andamento das investigações.
* Com recursos de Inteligência Artificial
REFERÊNCIAS:

